O luto é apenas por morte? Vamos pensar sobre as perdas simbólicas?
- patricia4907
- 15 de mar. de 2024
- 2 min de leitura

O luto é uma reação natural e esperada frente a uma perda significativa. E será que a dor da perda é vivida apenas quando alguém que amamos muito morre? Os lutos por morte são muito desafiadores, é inegável, mas muitas outras perdas que vivemos são também travessias exigentes, permeadas por dor, culpa, raiva.
Podemos pensar em tipos diversos de perdas: o fim de uma relação afetiva, uma mudança de cidade, a perda de um emprego. Toda uma reorganização precisa ser realizada para acomodar as novas identidades, papéis e necessidades. Perdas de partes importantes na nossa vida exigem a reconfiguração do nosso mundo, interno e externo.
Embora seja intrínseca na relação amorosa a possibilidade de perder o ser amado – seja por morte ou por um divórcio - formas de sofrimento podem manifestar-se nas respostas a esta experiência. Planos construídos em conjunto, horizontes existenciais sonhados precisam ser reconstituídos a partir desta ausência. O processo de separação de um casal implica, além da perda do outro, na perda de um aspecto importante de si. Reconstruir a vida, sem uma presença significativa requer reaprender a estar no mundo e constituir uma nova identidade a partir desta nova percepção. E muitas outras perdas podem estar associadas a este processo: mudanças de casa, de trabalho, construir uma nova forma de cuidado com os filhos. E os amigos em comum, com quem ficam? E os animais de estimação?
Vamos pensar sobre perder um trabalho, que muitas vezes, carrega o significado da potência, da realização. Para algumas pessoas é uma das principais dimensões da vida. E quando se perde o trabalho, seja por uma demissão, aposentadoria, ou até por uma escolha, desafios podem ser vividos! Novamente papéis e identidades precisarão se reorganizar. Muda a situação financeira, o convívio diário com pessoas que muitas vezes são companhias de anos!
E pensando que muitas vezes mudar de trabalho ou separar-se representam escolhas, chegamos a um ponto muito importante: a legitimidade de ficarmos em luto por situações que escolhemos! A todo momento que fazemos escolhas, fazemos renúncias. Renúncias são perdas, e podem desencadear processos de luto. Não quer dizer que as escolhas não foram feitas a partir de reflexões e ponderações, mas quando escolhemos o casamento, renunciamos a dimensões da vida de solteiro. Quando uma mulher escolhe não ser mãe, renuncia a experiência da maternidade. E todos estes lutos precisam ser legitimados e reconhecidos!
Este tema é inesgotável! Podemos pensar nas nossas perdas nos ciclos de vida, de vitalidade, de saúde! Ao nascermos já perdemos o útero, primeira morada. E vamos perdendo o corpo e pensamento mágico da criança, as experiências vividas na adolescência, desafios da vida adulta, os processos de envelhecimento, até alcançarmos a morte. E claro, todas estas perdas podem conjugar muitos ganhos, afinal como a Gestalt-terapia nos ensina, não é uma coisa ou outra, mas uma coisa e outra!
Patricia Camps
CRP: 06/63876
Muito bom!